‘’Um dia de repente’’ Carta comovente de uma mãe para a sua filha.
Um dia, de repente,
Quando estiver a pentear-se, em silêncio
ou enquanto estiver a calçar uma meia,
lembrará um gesto meu
e sorrirá, ternamente, ao pensar em mim ...
Um dia, de repente,
Ao pedalar rápido sob as primeiras gotas
de uma chuva cálida de Setembro,
sentirá chegar um cheiro ao seu nariz
despertando em si aquela lembrança,
de um cheiro de compota acabada de fazer
e, por um momento, ver-me-á frente ao fogão…
Um dia, de repente,
fará algo que eu já fiz,
da mesma maneira,
e ficará muito surpreendida,
porque nunca pensou que poderia
parecer-se tanto comigo.
Um dia, de repente,
vai olhar para as costas da sua mão e com o polegar e o indicador,
beliscará a pele, levantando-a um pouco
vai contar o tempo que ela vai levar até se acamar
pensando quando o fez nas minhas mãos.
Um dia, de repente,
ao abraçar uma criança, sentir-se-à cansada,
E vai pedir desculpa pelas vezes que chorei,
Sabendo, de antemão, que foi perdoada,
E sentirá muito a minha falta …
Mas estarei consigo em cada gesto,
no movimento das folhas no jardim
no farfalhar do gato à lareira,
ou nos passos de um tordo na neve
como só a presença eterna de uma mãe
pode fazer.
Carolina Turroni 2014
Tradução e adaptação
Mandy Martins-Pereira
Texto escrito de acordo com a antiga ortografia