QUE A MATURIDADE NÃO NOS RETIRE A LEVEZA NEM O RISO DA JUVENTUDE!
Certo dia percebi um olhar de surpresa no rosto do meu filho ao ver uma antiga fotografia minha, junto de vários amigos, fazendo coisas que os adolescentes fazem: correndo, rindo e pulando, meio despenteada.
Acredito que seja difícil para um filho ver e acreditar, que os pais algum dia foram jovens. Talvez pelo facto de, durante boa parte da vida dos nossos filhos, a nossa presença representar ordem, regras, broncas e cobranças, tão comuns a mães e pais que educam filhos. Tantas responsabilidades e, porque não dizer, tantos são os medos que vivemos, que acabamos por vestir uma armadura que esconde aquela nossa leveza juvenil.
Faz pouco tempo, estava com a casa cheia de amigos, com várias garrafas de vinho abertas sobre a mesa, dando aquelas gargalhadas soltas, que fazem correr lágrimas dos olhos, num verdadeiro alvoroço e, mais uma vez, o olhar assustado dos mais jovens. Além de assustados, um certo ar de reprovação por tanta felicidade. Como, se por algum motivo que ainda não descobri , fossemos proibidos de fazer farras depois dos 50 anos. Perguntei, o porquê da reprovação, e a resposta foi: ‘…nunca vi nenhum pai ou mãe fazer isso que vocês fazem…’ Engraçado, não é? É triste saber que muitos contemporâneos nossos, deixaram a intolerância vencer. Será que acham que não devíamos nunca tirar a nossa armadura e ficamos ali, sossegados no nosso canto, sem agitar as águas, sem rir, sem nos divertirmos ?
Creio que a vida, tantas vezes tão pesada no dia a dia, nos carrega de responsabilidade e vibrações negativas, e acabamos por mostrar aos outros, que realmente o nosso espírito envelheceu. E é nessa precisa hora que começamos a morrer em vida, a protestar com o barulho, a não querer organizar festas… Poder rir e divertir-se será um direito apenas dos jovens? Não! Recuso-me a deixar envelhecer a minha alma! O meu objectivo é alegrar a minha vida, com a alegria de meus amigos e familiares. Quero gastar dinheiro com petiscos e garrafas de vinho. Rever os meus amigos de escola, da rua onde morei, da “maltinha” da minha juventude, quando o nosso único objectivo era sair de casa e fugir do silêncio da nossa sala de visitas. Não quero ter medo de cortar alguém da lista para a festa, por receio de ofender ou esquecer algum amigo; não quero te medo de aceitar convites para dançar a noite toda. Quero dividir experiências, ver dicas de moda, juntar-me com amigos para fazermos aquilo que gostamos, organizar viagens, jantar fora, bebericar um copo à tardinha…Não é melhor do que marcar só encontros em hospitais e velórios, quando tudo o que poderia ter sido feito, já não será, então, possível fazer?
Quero continuar a causar espanto nos nossos filhos, para que eles, com a nossa idade, sejam exactamente como nós: eternamente jovens!
Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia